Quando se fala em funções
exclusivas para homens, logo nos recordamos de profissões como carpinteiro,
mecânico, engenheiro, metalúrgico, frentista de posto de gasolina,
caminhoneiro, etc. Está incluída nesse rol de profissões a de motorista do
transporte coletivo.
Ônibus da linha Guamá Monte Pio, conduzido por uma mulher Foto: Nilmara de Melo |
Na
cidade de Belém, entrar num ônibus coletivo conduzido por uma mulher é uma situação
raríssima. Muitos usuários do transporte coletivo ainda não tiveram a oportunidade
de ver uma mulher conduzindo um veículo do porte de um ônibus. Mas estas mulheres
existem. Em Belém, elas são poucas, mas já contribuem para quebrar a ideia de que
a mulher não pode conquistar os mesmos espaços que o homem.
Rosemeire de Almeida motorista de ônibus Foto: Nilmara de Melo |
Rosimeire de Almeida (45a) trabalha como motorista de ônibus há 11 anos e ainda hoje ela sofre preconceito por essa profissão ser uma feita na maioria por homens.
"Eu ainda sofro preconceito hoje, mas quando eu entrei na profissão sofri mais preconceito dentro de casa, devido ao fato de uma mulher querer exercer a profissão que até então era exclusiva para homens."
Rosemeire saindo para o trabalho. Foto: Nilmara de Melo |
"Nesses anos que estou trabalhando já construí um vínculo de amizade com alguns passageiros que até esperam eu passar para poder vim comigo. Ganho presentes, elogios o que é mais importante, o carinho de todos."
Rosemeire buscando o ônibus para sua primeira volta do total de cinco Foto: Nilmara de Melo |
No Brasil, a incorporação feminina ao mercado de trabalho começou efetivamente na década de 1970 e, desde então, vem aumentando significativamente.
No entanto, ainda foram constatadas algumas irregularidades: as mulheres continuam sendo responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado com os filhos pequenos; ainda há a concentração em atividades precárias e em ocupações femininas tradicionais; e as desigualdades salariais permanecem, principalmente nas boas ocupações.
Meio do percurso e ônibus já lotado Foto: Solange Medeiros |
Local de trabalho da motorista Foto: Nilmara de Melo |
As mulheres continuaram sendo
discriminadas no trabalho: ganhavam menos do que os homens que estavam na mesma
atividade, tinham mais dificuldade do que eles para ter acesso a cargos de
chefia e, o que é pior, os diferenciais de salários entre os sexos aumentavam
com o tempo de serviço. Pelo fato de serem mulheres, elas ainda são mal vistas
por alguns. A discriminação parte principalmente dos usuários do transporte
coletivo. Em pequena escala, também são discriminadas pelos colegas de trabalho
e pelos próprios familiares.
As alimentações acontecem dentro dos próprios coletivos. Foto: Solange Medeiros |
"Como trabalho no horário da manhã, a questão de alimentação é muito complicada, costumo comer nos intervalos de uma volta e de outra, é aquela correria. Às vezes chego em casa só 16 horas então a alimentação não acontece de maneira certa."
Rosemeire voltando para casa. Foto: Nilmara de Melo |
Deste
modo, pode-se concluir que a inserção das mulheres nos campos profissionais masculinos
- e aqui se toma como base o caso das motoristas do transporte coletivo de Belém
- está acontecendo de maneira lenta. E quando acontece, essa inserção já se dá
de maneira problemática, pois para ingressarem no mercado de trabalho, as
mulheres não dependem apenas do próprio mercado, mas também de suas
possibilidades como mães e donas de casa. Nisso consiste seu principal desafio.
FOTOS: NILMARA DE MELO E SOLANGE MEDEIROS
TEXTO: SOLANGE MEDEIROS E NILMARA DE MELO
EDITORA/DIAGRAMADORA: NILMARA DE MELO
Já peguei uma vez o ônibus com essa motora gente fina!
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