quarta-feira, 9 de abril de 2014

História do Maior Mercado da América Latina

Entre os séculos IX e XX, o mercado sofreu grandes transformações, tanto em suas funcionabilidade quanto na forma paisagística. Visando adaptarem-se as necessidades e gostos da Bella Époque. Não em detrimento do local, que apesar das mudanças nunca teve uma perda total de sua identidade estética e social. Mistura o antigo com presente, e recentemente completados 387 anos, o local coleciona estilos arquitetônicos, neoclássicos, góticos e barrocos. O que é mérito da absorção desses quase quatro séculos de existência, E delineado pelo tempo, pelas vivencias, pelas transformações e miscigenação.

Alguns produtos encontrados na Feira.
Foto : Solane Silva 2014

Barracas de Artesanatos.
Foto: Márcio Paiva

Barracas de variedades como: Tucupí e Maniçoba.
Foto : Márcio Paiva 2014



Tem como registro sua inauguração em 27 de março de 1627, localizado na Boulevard Castilho França, entre o igarapé Piri e a baía do Guajará. Por tratar-se de uma área privilegiada, e por ali se instalarem as principais edificações na época e haver o grande fluxo de pessoas, o Piri se tornou ponto de chegada e saída de embarcações, ligando Belém com o mundo. Mas a denominação “Ver-o-Peso”, só iria se manifestar em 1687, através do governador Francisco Coelho de Carvalho, que fez um pedido ao rei de Portugal, por meio de uma concessão para obter impostos sobre as mercadorias que por ali transitavam. Com seu pedido deferido em 1688, por uma Provisão-Régia foi criada a Casa do “Haver-o-peso”, projetada no Brasil em 1614, destinada a conferir precisamente o peso das mercadorias oriundas da colônia. A partir de então popularmente conhecido como Ver-o-Peso e sendo mantido como nome oficial do mercado.



Mercado do VER-O-PESO

Foto: Márcio Paiva 2014.

Complexo do mercado Ver-O-Peso

Foto: Márcio Paiva 2014.

Cerâmicas em geral encontram-se no mercado

Foto: Solane Silva 2014.


Todos os dias turistas visitam o complexo

Foto: Solane Silva 2014.


Uma visão do dia a dia do Veropa, completado 397 anos.

Foto: Márcio Paiva 2014.





Mercado de Carne ou Mercado Bolonha


Trata-se do Mercado Francisco Bolonha, popularmente conhecido como Mercado de Carne. Abrigam lojistas e feirantes, em sua maioria comercializando carnes e vísceras, mas também alguns que se dedicam ao comércio de refeições, polpas de frutas e produtos religiosos. Embora outras mercadorias também sejam vendidas, é unicamente neste lugar, dentro do complexo do Ver-o-Peso, que se faz o comércio de carne.
No complexo do Ver-o-Peso, lojistas e feirantes ocupam categorias diferentes, principalmente no Mercado de Carne, onde a distinção destes se faz maior, muitas vezes gerando conflitos com os demais trabalhadores da feira. Atualmente, o prédio do Mercado de Carne está em reforma e parte dos locatários foram alojados nas ruas laterais (Oriental e Ocidental); outros estão ocupando um prédio (do grupo Y. Yamada) na Boulevard Castilho França; outros, ainda, estão sem exercer suas atividades, recebendo, por isso, um auxílio da prefeitura de Belém.

Esta edificação tem grande importância histórica por ser um dos prédios mais antigos do entorno. Depois de passar por algumas reformas, empreendidas inclusive pelos próprios trabalhadores, o Mercado de Carne atualmente está sendo restaurado por intermédio do Programa Monumenta.

Mercado foi entregue em 2010, revitalizado e restaurado.
Foto: Solane Silva 2014.

Vista do alto do mercado de carne, tudo novo e limpo.
Foto: Neto 2014.
Mercado do Peixe, popularmente conhecido como “A Pedra do Peixe”.

Analisando mais precisamente os processos de comercialização entre os trabalhadores da pesca que atuam no Mercado de Peixe do Ver-o-Peso, tomamos como referencial o lugar conhecido como “Pedra”, e é, a calçada lateral do Mercado de Ferro onde atracam as embarcações. Vai do rio até em frente da Praça do Relógio, sendo que o trecho situado entre as avenidas Boulevar Castilho França e Quinze de Novembro são consideradas o melhor lugar para a venda do pescado. Este trecho é disputado pelas embarcações que chegam já desde o dia anterior para guardar lugar e garantir melhor venda.
Enquanto no mercado de peixe as relações são quase assépticas, os boxes são limpos, os trabalhadores organizados, o ambiente do lado de fora contrasta bastante. Nesta calçada entre o rio e o mercado, as relações são mais intensas e chega-se a duvidar que o estreito corredor consiga conter tantas pessoas que ali se posicionam. Gritos: bordões, assovios,esbarrão, cutucão; pisada, empurrão. Cheiros diversos. Água vinda de todos os lados, das poças do chão ou pingando dos tabuleiros apressados que passam no alto da cabeça dos carregadores. Insultos, xingamentos, brigas, malícia na fala, tudo isso compõe o quadro de relações de compra e venda de pescado no Ver-o-Peso.
Vista do Alto em uma embarcação que transporta peixe para a revenda.

Foto: Neto 2014.



O MERCADO E A SANTA


 Círio e Mercado são categorias tão ampliadas que somente com muita dificuldade podem ser relacionadas, tamanha a complexidade de relações que comportam cada uma. As análises que se podem extrair daí são múltiplas e o pesquisador deve se preocupar com a precisão do tema, com a definição dos elementos que vão ser tomados na análise, como exigência para a compreensão dos aspectos que podem ser sociologicamente observáveis. Grosso modo o Círio como fenômeno religioso domina a temporalidade na cidade, no âmbito das práticas sociais e econômicas, sendo perfeitamente possível serem propostas diferentes análises em termos das articulações entre a fé e a economia, por exemplo, com todo o comércio de fitinhas, camisetas com a imagem da santa, roupas de anjos, velas, ex-votos de cera, madeira ou miriti. Nessa ocasião os camelôs trocam seus produtos tradicionais (lanches, roupas, brinquedos) pela venda desses produtos do Círio. Juntando-se a eles muitos vendedores vêm dos interiores e vendem bugigangas também típicas do Círio, como as bonequinhas de lã, bolsinhas e demais produtos que cativam a curiosidade do romeiro.
Há uma intensa produção que envolve toda a cidade com decoração, cartazes, balões, santinhas de brindes, berlindas (que serão exibidas em praticamente todas as residências e estabelecimentos comerciais), flores – naturais e artificiais, fitas, faixas, festas (equipes de som, aluguel das sedes), transportes (barcos, ônibus). A festa anima também o empreendimento de melhorias nas casas e estabelecimentos, desde a compra de móveis ao agito na construção civil quando, no mínimo, se intenciona “pintar a casa pro Círio”! Igualmente os serviços públicos incrementam o movimento de suas verbas no período, com investimentos na iluminação, pintura de meio-fio e postes, poda de árvores, restaurações do patrimônio.
Deixamos para o final falar sobre o quesito alimentação, uma vez que o mês de outubro de cada ano renova a presença das famílias paraenses em torno das mesas que, todavia, apresentam sempre os mesmos pratos: pato no tucupi, maniçoba e sobremesa de cupuaçu. A feira então se movimenta com a intensificação na procura pelos produtos que irão compor o cardápio do almoço do Círio. Os montes de maniva desfolhada mal deixam vê as tiradeiras, patos amarrados pelos pés gritando já o seu martírio. Os melhores produtos, os mais adequados aos pratos que devem ser preparados durantes os festejos do Círio encontram-se no Ver-o-Peso, e mesmo as donas de casa que não o frequentam, nessa época costumam fazer suas compras lá.


Solar da Beira um dos pontos onde passa o Círio de Nazaré.

Foto: Solane Silva 2014.

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