Entre os séculos IX e XX, o
mercado sofreu grandes transformações, tanto em suas funcionabilidade quanto na
forma paisagística. Visando adaptarem-se as necessidades e gostos da Bella Époque.
Não em detrimento do local, que apesar das mudanças nunca teve uma perda total
de sua identidade estética e social. Mistura o antigo com presente, e
recentemente completados 387 anos, o local coleciona estilos arquitetônicos,
neoclássicos, góticos e barrocos. O que é mérito da absorção desses quase
quatro séculos de existência, E delineado pelo tempo, pelas vivencias, pelas
transformações e miscigenação.
Alguns produtos encontrados na Feira.
Foto : Solane Silva 2014
Barracas de Artesanatos.
Foto: Márcio Paiva
Barracas de variedades como: Tucupí e Maniçoba.
Foto : Márcio Paiva 2014
Tem como registro sua inauguração
em 27 de março de 1627, localizado na Boulevard Castilho França, entre o
igarapé Piri e a baía do Guajará. Por tratar-se de uma área privilegiada, e por
ali se instalarem as principais edificações na época e haver o grande fluxo de
pessoas, o Piri se tornou ponto de chegada e saída de embarcações, ligando
Belém com o mundo. Mas a denominação “Ver-o-Peso”, só iria se manifestar em
1687, através do governador Francisco Coelho de Carvalho, que fez um pedido ao
rei de Portugal, por meio de uma concessão para obter impostos sobre as
mercadorias que por ali transitavam. Com seu pedido deferido em 1688, por uma
Provisão-Régia foi criada a Casa do “Haver-o-peso”, projetada no Brasil em
1614, destinada a conferir precisamente o peso das mercadorias oriundas da
colônia. A partir de então popularmente conhecido como Ver-o-Peso e sendo
mantido como nome oficial do mercado.
Mercado do VER-O-PESO
Foto: Márcio Paiva 2014.
Complexo do mercado
Ver-O-Peso
Foto: Márcio Paiva
2014.
Cerâmicas em geral
encontram-se no mercado
Foto: Solane Silva
2014.
Todos os dias
turistas visitam o complexo
Foto: Solane Silva 2014.
Uma visão do dia a
dia do Veropa, completado 397 anos.
Foto: Márcio Paiva
2014.
Mercado de Carne ou
Mercado Bolonha
Trata-se do Mercado Francisco
Bolonha, popularmente conhecido como Mercado de Carne. Abrigam lojistas e
feirantes, em sua maioria comercializando carnes e vísceras, mas também alguns
que se dedicam ao comércio de refeições, polpas de frutas e produtos
religiosos. Embora outras mercadorias também sejam vendidas, é unicamente neste
lugar, dentro do complexo do Ver-o-Peso, que se faz o comércio de carne.
No complexo do Ver-o-Peso,
lojistas e feirantes ocupam categorias diferentes, principalmente no Mercado de
Carne, onde a distinção destes se faz maior, muitas vezes gerando conflitos com
os demais trabalhadores da feira. Atualmente, o prédio do Mercado de Carne está
em reforma e parte dos locatários foram alojados nas ruas laterais (Oriental e
Ocidental); outros estão ocupando um prédio (do grupo Y. Yamada) na Boulevard
Castilho França; outros, ainda, estão sem exercer suas atividades, recebendo,
por isso, um auxílio da prefeitura de Belém.
Esta edificação tem grande
importância histórica por ser um dos prédios mais antigos do entorno. Depois de
passar por algumas reformas, empreendidas inclusive pelos próprios trabalhadores,
o Mercado de Carne atualmente está sendo restaurado por intermédio do Programa
Monumenta.
![]() |
Mercado foi entregue
em 2010, revitalizado e restaurado.
Foto: Solane Silva
2014.
|
![]() |
Vista do alto do
mercado de carne, tudo novo e limpo.
Foto: Neto 2014.
|
Mercado do Peixe,
popularmente conhecido como “A Pedra do Peixe”.
Analisando mais precisamente os
processos de comercialização entre os trabalhadores da pesca que atuam no
Mercado de Peixe do Ver-o-Peso, tomamos como referencial o lugar conhecido como
“Pedra”, e é, a calçada lateral do Mercado de Ferro onde atracam as embarcações.
Vai do rio até em frente da Praça do Relógio, sendo que o trecho situado entre
as avenidas Boulevar Castilho França e Quinze de Novembro são consideradas o
melhor lugar para a venda do pescado. Este trecho é disputado pelas embarcações
que chegam já desde o dia anterior para guardar lugar e garantir melhor venda.
Enquanto no mercado de peixe as
relações são quase assépticas, os boxes são limpos, os trabalhadores
organizados, o ambiente do lado de fora contrasta bastante. Nesta calçada entre
o rio e o mercado, as relações são mais intensas e chega-se a duvidar que o
estreito corredor consiga conter tantas pessoas que ali se posicionam. Gritos:
bordões, assovios,esbarrão, cutucão; pisada,
empurrão. Cheiros diversos. Água vinda de todos os lados, das poças do chão ou
pingando dos tabuleiros apressados que passam no alto da cabeça dos
carregadores. Insultos, xingamentos, brigas, malícia na fala, tudo isso compõe
o quadro de relações de compra e venda de pescado no Ver-o-Peso.
Vista do Alto em uma
embarcação que transporta peixe para a revenda.
Foto: Neto 2014.
O MERCADO E A SANTA
Círio e Mercado são categorias
tão ampliadas que somente com muita dificuldade podem ser relacionadas, tamanha
a complexidade de relações que comportam cada uma. As análises que se podem
extrair daí são múltiplas e o pesquisador deve se preocupar com a precisão do
tema, com a definição dos elementos que vão ser tomados na análise, como exigência
para a compreensão dos aspectos que podem ser sociologicamente observáveis.
Grosso modo o Círio como fenômeno religioso domina a temporalidade na cidade,
no âmbito das práticas sociais e econômicas, sendo perfeitamente possível serem
propostas diferentes análises em termos das articulações entre a fé e a
economia, por exemplo, com todo o comércio de fitinhas, camisetas com a imagem
da santa, roupas de anjos, velas, ex-votos de cera, madeira ou miriti. Nessa ocasião
os camelôs trocam seus produtos tradicionais (lanches, roupas, brinquedos) pela
venda desses produtos do Círio. Juntando-se a eles muitos vendedores vêm dos
interiores e vendem bugigangas também típicas do Círio, como as bonequinhas de lã,
bolsinhas e demais produtos que cativam a curiosidade do romeiro.
Há uma intensa produção que
envolve toda a cidade com decoração, cartazes, balões, santinhas de brindes,
berlindas (que serão exibidas em praticamente todas as residências e
estabelecimentos comerciais), flores – naturais e artificiais, fitas, faixas,
festas (equipes de som, aluguel das sedes), transportes (barcos, ônibus). A
festa anima também o empreendimento de melhorias nas casas e estabelecimentos,
desde a compra de móveis ao agito na construção civil quando, no mínimo, se
intenciona “pintar a casa pro Círio”! Igualmente os serviços públicos
incrementam o movimento de suas verbas no período, com investimentos na
iluminação, pintura de meio-fio e postes, poda de árvores, restaurações do
patrimônio.
Deixamos para o final falar sobre
o quesito alimentação, uma vez que o mês de outubro de cada ano renova a
presença das famílias paraenses em torno das mesas que, todavia, apresentam
sempre os mesmos pratos: pato no tucupi, maniçoba e sobremesa de cupuaçu. A
feira então se movimenta com a intensificação na procura pelos produtos que
irão compor o cardápio do almoço do Círio. Os montes de maniva desfolhada mal
deixam vê as tiradeiras, patos amarrados pelos pés gritando já o seu martírio.
Os melhores produtos, os mais adequados aos pratos que devem ser preparados
durantes os festejos do Círio encontram-se no Ver-o-Peso, e mesmo as donas de
casa que não o frequentam, nessa época costumam fazer suas compras lá.
Solar da Beira um dos
pontos onde passa o Círio de Nazaré.
Foto: Solane Silva
2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário